Tive a sorte de viver nos Estados Unidos por alguns – bons – anos. Desde que o Partido Democrata tomou a decisão de inviabilizar a candidatura de Joe Biden, tive a certeza de que Donald Trump estava eleito. Aliás, diga-se, desde a primeira vitória do ex-apresentador do ‘The Apprentice’, cravei todos os resultados sem qualquer margem de erro. Desde a candidatura de Joe Biden, a primeira, quando “ixpecialistas” – como o jornalista Guga Chacra, da GloboNews – teimavam e insistiam em dizer e repetir que o ex-vice de Obama não teria qualquer chance, apostei que Biden não apenas seria o candidato dos democratas, como seria eleito o novo presidente dos Estados Unidos. Assim foi.
Por que tanta certeza? Falo sobre os Estados Unidos, onde imagem não é tudo, mas preconceitos sempre falarão mais alto. Seja pelo etarismo que fulminou Biden, como pela misoginia que destruiu o sonho de Kamala Harris. Mais do que a imagem, o que sempre falou, continua a falar e, pelo jeito, ainda falará por muitos e muitos anos é o marketing, e nisso, Trump é “professor”, ainda que de um marketing às avessas.
Por que Biden? Porque ele é o típico “menino de ouro” da América. Superou uma gagueira, a morte de dois filhos e da primeira mulher, teve uma tentativa de candidatura à presidência, em 1987, frustrada por um aneurisma intracraniano que quase o levou à morte, e foi o dupla dos sonhos de Barack Obama. Ele não apenas fez o que qualquer vice-presidente deveria fazer – que é trabalhar, muito e bem -, como foi um dos principais responsáveis pela segunda vitória de BO. Biden simplesmente “destruiu” Paul Ryan – o então candidato a vice junto de Mitt Romney – durante o último debate dos vices, reerguendo a campanha de Obama que cambaleava. Foi elegante e equilibrado o suficiente para, ao entregar, junto com BO, a presidência a Trump, voltar com sua mulher, a até hoje professora Jill, de trem para casa, sem qualquer aparato de seguranças. Os americanos e, principalmente, os democratas, foram incapazes de admitir alguns deslizes de Biden. Um homem que é gago e que já passou por um gravíssimo aneurisma. Escolheram Kamala Harris, aquela que nada, rigorosamente nada, fez ao longo dos últimos quatro anos como vice. Isso, só não enxergou quem não quis. A maioria politicamente correta correu para o mimimi de primeira mulher presidente e esqueceu sobre qual país falava.
Por que Trump? Porque ele é o ideal do american dream. O mito de um redneck. O cara que os imigrantes latinos, ilegais inclusive, endeusam e justificam. O desastre em forma de presidente. Porque, não se engane, os quatro anos que Biden vem carregando nas costas e transformando em algo bem mais leve, se tornarão ainda mais fáceis de viver nos quatro anos que virão. Ou alguém acha que governar um país é tão fácil a ponto de se conseguir resultados imediatos? Obama herdou um país arrasado de George W Bush e governou brilhantemente por oito anos. Trump governou por quatro, herdando os Estados Unidos reconstruídos por BO e tratou de destruir tudo novamente. Biden tem feito um trabalho excelente, mesmo com todas as dificuldades – daquilo que recebeu de Trump e de suas próprias. E o presidente eleito nessa madrugada sabe disso, tanto, que tratou de fazer o seu melhor – que é sempre o pior – para afastar Biden, e conseguiu. Qualquer pessoa mais atenta, no entanto, vai perceber que Donald Trump vem dando demonstrações de que seus 78 anos de idade também vêm pesando, ainda mais para alguém como ele, sedentário e acima do peso. Junte-se a isso uma Melania Trump e uma família de dar inveja aos Bolsonaro e está pronta a tempestade perfeita. Serão quatro tristes anos. Serão quatro anos de retrocesso. Serão quatro anos de vingança e de megalomania de um homem nitidamente desequilibrado. Lamento. Vivi alguns dos melhores anos por lá. Foi o país onde consegui me reerguer de uma das maiores tristezas da minha vida. E por lá aprendi muito. Talvez mais do que em todos os anos que aqui vivi. Sinto saudades, mas bem sei que não sentirei dos Estados Unidos de Donald Trump. Que os americanos sobrevivam a mais esse mandato de um megalomaníaco. E que as consequências que virão para nós, sejam leves.
Agora, explica como os institutos de pesquisa americanos passam semanas indicando um empate perfeito, e o resultado acaba sendo tão diverso quanto acabamos de ver?
Os americanos mentem para os institutos ou os institutos não sabem pesquisar?
O “fenômeno” Wilson Witzel não explica, mas ilustra bem as pesquisas e seus erros. Porque é óbvio que erraram, e feio.